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sábado, 10 de abril de 2010

A PATRÍSTICA: O LOGOS PAGÃO EM RELAÇÃO AO PROBLEMA DA ESCOLA DE ALEXANDRIA.


Resumo
Longe de ser obra do demônio, a filosofia grega é, ao contrario, um bem. Para dar prova a este ponto, Clemente não só retorna como também realça e desenvolve a tese do filósofo Justino sobre a função soterológica da Lei mosaica e da filosofia grega. À filosofia antiga (paganismo) coube a tarefa pedagógica de encaminhar os gentios para Cristo () como à antiga, Lei sérvica, para conduzir os judeus a Ele. Portanto, a fé em Cristo, a que agora se pretende restringir o alcance da razão humana, não existiu antes do advento do salvador quando se dispunha apenas da Lei judaica e da filosofia grega.

Palavras-chave: Sujeito. Paganismo. Dogma. Fé.  
1.Introdução

 O presente estudo pretende mostrar quão fundamental foi à filosofia Patrística para o reforço do Cristianismo. O Cristianismo é uma religião essencialmente universal, e a patrística reforça suas estruturas. Trata-se de um fato histórico, onde que, a “Boa Nova” recrutou seus primeiros ouvintes e adeptos, principalmente entre as classes humildes.

O termo paganus no sentido idólatra se afirma somente no século IV d.C. A partir do século II, os apologétas de língua grega costumavam dividir a humanidade em três grupos: gregos; judeus; e cristão isto provinha do fato de que os cristãos não se identificavam nem com a cultura helênica nem com a tradição judaica. O século II é também a idade de ouro dos gnosticismos. É difícil caracterizar em algumas palavras essa importantíssima corrente do pensamento; digamos que se trata contrariamente ao que durante muito tempo se acreditou (Harnack), de um vasto fenômeno religioso de que a heresia cristã que ordinariamente se entende sobre o nome de gnosticismo é apenas uma manifestação particular.

A idéia diretriz é a da salvação pelo conhecimento (gnose) concebido como devendo substituir a fé desde este mundo. O Deus criador imperfeito é distinguido do Deus supremo transcendente; a essa distinção, os gnósticos de cultura cristã superpõem à dualidade do Antigo Testamento, que rejeitam como sendo a carta do Deus criador e do Novo Testamento revelação do Deus de bondade. A adesão excessiva de certos pensadores cristãos às suas especulações muitas vezes fantásticas conduziu a declarar que a filosofia é superior à fé: é a atitude dos gnósticos. 

 Para estes heréticos, a filosofia permite transformar a fé em gnose, isto é em conhecimento superior, que pode ir até a intuição extática de Deus... Os grandes nomes desse gnosticismo são, no século II, os de Marcião, de Basílio, de Valentino (CHATELET, 1997). 

Alguns filósofos têm por costume ratear a filosofia cristã dos primeiros séculos A Patrística em três descomedidos períodos. Donde o primeiro que avança até o século III, é dedicado à defesa da doutrina cristã em contradição aos heréticos. Seja a frase bem conhecida do Timeu, 28: “Descobrir o autor e pai deste universo é um grande feito e, uma vez descoberto, é impossível divulgá-lo a todos”. Ela é freqüentemente citada pelos padres, tais como Atenágoras, Justino, Clemente de A., Orígenes, entre os gregos, Tertuliano e Minúcio Felix entre os latinos.

Retêm dela duas teses: de uma parte a afirmação de que o mundo foi criado por Deus ex nihilo, de outra a idéia da dificuldade que havia em conhecer a Deus antes da vinda de Cristo; alguns, como será mais tarde o caso de Gregório de Nissa, desenvolvem este segundo ponto no sentido da incompreensibilidade para mostrar que Platão se inspirou no Antigo Testamento, mais precisamente, no episodio de Moisés entrando nas trevas em que, Javé se dissimula (Êxodo XIX, 16,25). O segundo período vai do século III até avinhar-se metade do século IV, é caracterizado, sobretudo pela formulação doutrinal das crenças cristãs.

A influência de Orígenes é perceptível nos padres gregos do século IV, que são essencialmente os três capadócios: Gregório Nanziazeno, Basílio de Cesárea, e seu irmão Gregório de Nissa. Os adversários com relação aos quais os capadócios devem se definir não é mais o gnosticismo, mas sim a heresia ariana, representada na segunda metade do século IV, por Eunomio. Esse conflito é importante para a história da filosofia, pois o arianismo apresenta-se como um esforço para racionalizar o dogma cristão, para esvaziar-lhe o mistério, em suma, para condizer, antes de Kant, “A religião dentro dos limites da simples razão”, esse propósito dos arianos repercutia, sobretudo em sua teologia trinitária.

O terceiro período que vai da metade do século V até o fim do século VIII, é caracterizado pela relaboração e pela sistematização das doutrinas já formuladas, bem como pela ausência de formulações originais [1].

A maior parte dos pensadores cristãos encaminhou-se para uma solução conciliadora: reconhecem a primazia da sabedoria divina, mas querem por a filosofia ao serviço desta sabedoria: o seu papel será preparar os espíritos para a fé, defende-la contra os ataques dos pagãos e explicar o conteúdo da revelação. É atitude que se encontra nos padres apologistas (séculos II e III), em Santo Agostinho e também no Pseudo-Dionisio (séculos IV e V).

2. Referencial teórico

2.1. Características da filosofia Patrística.

A priori é denominada como filosofia cristã dos primeiros séculos e caracterizada como o período do pensamento cristão que se seguiu à época neotestamentária; e chega até o começo da escolástica [2]; isto é, os séculos II-VIII da era vulgar. Na época patrística, o saber cristão não tem ainda estrutura determinada; faz lembrar a imagem da nebulosa, em que os grupos estelares não receberam ainda a sua configuração.

O problema de estrutura por-se-á quando filósofos e teólogos de profissão se interrogar sobre o estatuto da sua disciplina e sobre o seu lugar no conjunto do saber. Ora, no período da patrística, não há de modo nenhum profissionais da filosofia, tampouco da teologia: até a escola de Alexandria, que é uma escola de catequese, tem em vista fins mais pastorais e apostólicos do que fins científicos. As doutrinas filosóficas dos padres estão integradas na sua visão do mundo; são utilizadas em obras que dizem mais respeito à teologia.

2.2. O Logos na filosofia pagã.

Embora aparentemente simples em suas grandes linhas, a solução do problema da verdadeira filosofia suscita graves dificuldades:

 “Justino não procurou evitá-las. Se é verdade que só o cristianismo oferece uma solução cabal ao problema filosófico, que opinião se há de ter a respeito dos filósofos anteriores a cristo? Teremos o direito de condená-los por haverem ignorado a revelação? Paulo apelara à Lei inscrita nos corações dos gentios, para condená-los em nome dela. Justino envereda por um caminho diferente, ainda que não diretamente oposto. Os mestres gregos o haviam conduzido ao limiar do cristianismo; por isso não pode animar-se a condená-los ou a preteri-los, pura e simplesmente. No ínterito de assegurar-lhes um lugar no seio do cristianismo, Justino elabora a sua doutrina da participação dos gregos no verbo, ou Cristo, tornando-se assim o fundador do humanismo cristão” (ÉTIENE GILSON, 2000, p.).

 A Posteriore, Justino sentiu-se como que compelido a tal doutrina. Era-lhe impossível negar que na filosofia grega não só se conhecera, mas também se praticara a verdade. Ora, toda a verdade deve está no logos, que “ilumina todo o homem que vem a este mundo”, logo, toda verdade deve ser relacionada ao logos. De outro lado, porém Justino não pode deixar de reconhecer que a verdade dos gregos era ainda imperfeita e fragmentaria.

 No que se refere à filosofia cristã da historia e o humanismo cristão, dir-se-à que Jesus Cristo é o logos. Porquanto, os filósofos antigos participaram dele, pelo que podemos chamar-lhes cristãos anteriores a Cristo. Foi em Alexandria, sede de uma escola de teologia cristã particularmente aberta ao helenismo que os filósofos pagãos, de sua parte mostravam-se mais receptivos à maneira de viver e de pensar dos cristãos; assim o pagão Alexandre de Licópolis compõem um tratado de polemica antimaniqueia no qual se mostra sensível preocupação que os cristãos têm pela pedagogia popular; foi lá também que se formou o filosofo Sinésio de Cirene, que abandonou o neoplatonismo para se converter ao cristianismo e logo se torna bispo, sem por isso renunciar de todos às suas primeiras ideias, que o colocam um pouco à margem da ortodoxia. Vista como ponto de convergência da cultura helenística nos inícios do século III, Alexandria era, sem duvida o lugar mais indicado para a formação de uma escola deste tipo, cultivavam-se ali com raro brilho a filologia e as ciências da natureza.

3. Santo Agostinho Fé e Razão.

Neste estudo o qual se refere à filosofia patrística, farei uma breve inferência à vida de Santo Agostinho; por isso não mencionarei, por ora, senão alguns dados biográficos mais salientes. A fonte principal na qual me servi são as “Confessiones” a autobiografia de Agostinho, e as “Retractationes”.

Nasceu Agostinho a 13 de Novembro de 354 em Tagasta, hoje Souk-Ahras. Filho de pai pagão e mãe cristã, Agostinho era um estudioso cujos princípios de vida estavam solidificados no maniqueísmo fundado por Manes. A filosofia Agostiniana é calcada no neoplatonismo plotiniano e nos princípios platônicos, e aristotélicos indiretamente. Pode-se dizer ainda que, sua empreita filosofal era a de conciliar a fé com a razão. A verdade eterna se descobre através da contemplação da própria alma, reminiscência platônica, ou seja, caminho interior.

Sua conversão ocorre nessa jornada interior, quando recebemos a luz divina em nossas almas (memória, inteligência, vontade), tudo se explica pela fé, ela justifica a si mesma “Creio para entender”. Na pessoa de Agostinho a filosofia patrística e, quiçá, a filosofia cristã como tal atinge seu apogeu. E’ certo que Agostinho não pode ser contado entre os mestres [3] da síntese.

Dir-se-ia que o seu espírito sempre vivo e pujante, empenhado em aceitar o homem a decisões éticas e teoréticas sempre novas, não comporta sequer a idéia de um sistema. Seja como for, a historia no-lo apresenta como a figura que __ conjugando, da maneira mais feliz, o ardor púnico ao espírito helênico e à vontade romana __ iria ser o pioneiro do pensamento cristão, o preceptor dos povos e orientador dos séculos. De sua plenitude irá haurir as gerações de todo um milênio, sem jamais conseguir esgotá-la.

Encerra-se definitivamente a era das perseguições. Todavia, às lutas externas seguem-se, e não menos árduas, as lutas internas. De um lado havia o perigo ariano a reclamar medidas enérgicas; de outro lado, o maniqueísmo com sua metafísica essencialmente anticristã e pagã, continuava ameaçando a própria medula da igreja. E precisamente neste ambiente de renhidas lutas espirituais que se desenrola a vida do grande Doutor da igreja.

Considerações Finais

A patrística é considerada a filosofia cristã elementar centenária de nossa era, contudo o propósito dos cristãos não é intelectual nem teórico, mas referente às verdades religiosas, que são interpretadas, elaboradas, formuladas em dogmas, e este dogma vai se constituindo na esteira da luta em oposição aos numerosos movimentos heréticos, sobretudo o maniqueísmo. Os primeiros séculos são de construção dogmática cristã, e juntamente com a interpretação ortodoxa surgem abundantes heresias, em que o cristianismo se vê, portanto, obrigado a ordenar uma formulação intelectual um dogma, e depois se propõe a uma discussão racional com seus inimigos heréticos.

Os padres não dispõem de um sistema definido e rigoroso, antes conhecem a filosofia grega num litígio em qual são ecléticos: escolhe de todas as escolas pagãs o que lhes pareça mais útil para seu fim. Sua principal fonte é o neoplatonismo, e por meio de tal conhecem Platão de modo pouco preciso e se esforçam por descobrir nele analogias com o cristianismo. O cristianismo não é uma escola de filosofia e não comporta uma filosofia em sentido estrito; mas implica uma filosofia em sentido lato, isto é uma visão do universo, e esta visão é inteiramente nova, pretende dissipar as trevas do paganismo e mesmo as do judaísmo, fechado nos horizontes estreitos de um messianismo terrestre.

Os problemas centrais tratados pela patrística são: A criação; a relação de Deus com o mundo; o mal; a alma; o destino da existência. A filosofia aprovada pelos padres é quase sempre de inspiração platônica, sobre diversas formas e em diferentes graus, a maior parte dos pensadores cristãos desta época sofre a influencia do platonismo. Chegam a utilizar também o estoicismo, mas em menor grau. No que tange às questões teológicas centrais, destaca-se o moralismo. Os moralistas cristãos estabelecem as bases de uma nova ética a partir de conceitos helênicos, porém, as ideias têm características alheias ao pensamento grego.


  BIBLIOGRAFIA
ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
CHÂTELET, François. Historia da Filosofia; Ideias, Doutrinas. In. Filosofia Medieval. Tradução de Maria José de Almeida. Rio de Janeiro: Zahar, 1994.
BOEHNER PHILOTHEUS e ETIENE GILSON. Historia da filosofia Cristã. Tradução de Raimundo Vier, O.F.M. Petrópolis: Vozes, 2000.
REALE, Giovane e ANTISERE, Dario. Historia da filosofia. São Paulo: Paulus, 1990.
CONTALDO, Silva Maria de. Historia da Filosofia Medieval. Instituto Santo Tomás de Aquino (ISTA). In. Curso de Filosofia. Brasília, DF, 2003. (compilação elaborada pela professora Silvia Maria de Contaldo, leciona atualmente no ISTA).



[1]-Citação de (ABBAGNANO, 1998. Com apêndices do autor).
[2]-O termo escolástico poderia dar a impressão que o período assim denominado nos defronta com uma filosofia rigosamente demarcada. Tal impressão não corresponde à realidade. Por certo, enquanto parte da filosofia cristã, a escolástica se atém a priori a certos princípios indiscutíveis, dos quais nenhum escolástico ousa duvidar. Dentro deste amplo molde, porém há espaços para uma variedade de correntes sem paralelo em toda a historia da filosofia.
[3]-Referente aos mestres do Ocidente.

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