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quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Tanto Kant quanto Husserl utilizaram o termo “fenômeno” em suas explicações filosóficas quanto ao problema do conhecimento. Quais são as diferenças básicas (se existem) deste conceito em ambas as teorias? Ambas apontam para os limites do conhecimento? Por quê?

É sabido que o termo “Fenômeno” fora usado tanto por Immanuel Kant (1724-1804), bem como, por Edmund Husserl (1859-1938) em suas explicitações filosóficas acerca do problema do conhecimento.

De praxe, é interessante lembrarmos primeiramente a posição de Kant com relação à filosofia, a qual ele a define como “a ciência da relação de todo conhecimento e de todo uso da razão com o fim último da razão humana”, caracterizando-se pelo tratamento de quatro questões fundamentais: 1º O que posso saber? Questão que diz respeito à metafísica, no sentido kantiano de investigação sobre a possibilidade e legitimidade do conhecimento. 2º O que devo saber? Cuja resposta é dada pela moral. 3º O que posso esperar? O problema da esperança, de que trata a religião. 4º O que é o homem? Objeto da antropologia.

Pode-se dizer que na concepção kantiana, o conhecimento do objeto resulta da contribuição de duas faculdades de nossa mente, ou de nossa razão, a sensibilidade e o entendimento. A Crítica da Razão Pura visa, assim, investigar as condições de possibilidades do conhecimento, ou seja, o modo pelo qual, na experiência de conhecimento, sujeito e objeto se relacionam e em que condições esta relação pode ser considerada legítima. Sujeito e objeto são, portanto, para Kant, termos relacionais, que só podem ser considerados como parte da relação de conhecimento, e não autonomamente. Só há objeto para o sujeito, só há sujeito se este se dirige ao objeto, visa apreendê-lo.

 Kant emprega o termo estética ainda no sentido tradicional de análise da sensibilidade do ponto de vista do conhecimento. Sua teoria da sensibilidade, entretanto, não é uma teoria das sensações, ou da percepção sensível, como encontramos em Locke e Hume, por assim dizer. Kant rejeita a noção de uma intuição intelectual, que poderia nos dar acesso direto à essência das coisas, tal como encontramos na metafísica tradicional. Por definição, a essência é o incondicionado, conhece-la seria entrar numa relação com a essência, a partir do quê esta deixaria de ser incondicionada. A intuição é sempre visível, é o modo como os objetos se apresentam a nós no espaço e no tempo, condição de possibilidade para que sejam objetos. Dizemos assim, segundo Kant que o que conhecemos não é o real, “a coisa-em-si”, mas sempre o real em relação com o sujeito do conhecimento, isto é, o real enquanto objeto. Kant distingue desse modo o mundo dos fenômenos, a realidade de nossa experiência, do mundo do númeno, a realidade considerada em si mesma, a qual podemos pensar, mas não conhecer.

Em suma, Kant formula um projeto de filosofia crítica que visa dar conta da possibilidade do homem conhecer o real e de agir livremente. Assim, podemos afirmar que para ele (Kant) o conhecimento resulta da contribuição das faculdades da sensibilidade e do conhecimento que constituem o sujeito do conhecimento, na qual, a sensibilidade possibilita que o objeto pensado por conceitos (entendimento) seja determinado espaço temporalmente como objeto de uma experiência possível.

 Edmund Husserl (1859-1938) foi professor na Universidade de Freiburg (1926-28), na Alemanha. Seu projeto filosófico caracterizou-se incialmente pela formulação da fenomenologia como um método que pretende explicitar as estruturas implícitas da experiência humana do real, revelando o sentido dessa experiência através de uma análise da consciência em sua relação com o real. A fenomenologia de Husserl pertence assim à tradição da filosofia da consciência e da subjetividade características da modernidade, embora desenvolvendo uma interpretação própria. Ele pretende considerar sua tarefa basicamente como descritiva dos elementos mais básicos de nossa experiência. Husserl vê a filosofia, por bem dizer, como uma ciência rigorosa e dá e teoria do conhecimento um lugar central em seu pensamento. Pela temática que desenvolve, pelos conceitos que emprega e pela maneira como concebe a tarefa da filosofia, Husserl pode ser visto, creio, como um herdeiro de Descartes e do próprio Kant.

Indo mais além, podemos ainda dizer que, o lema básico da fenomenologia é “de volta às coisas mesmas”, procurando com isso a superação da oposição entre realismo e idealismo, entre o sujeito e o objeto, a consciência e o mundo.  Mas, o que é fenomenologia? Ora, em definição, podemos dizer que, a fenomenologia é o movimento filosófico inaugurado por Husserl e desenvolvido, sobretudo na França e na Alemanha, por seus seguidores, constituindo uma das principais correntes do pensamento do século XX.

 Contudo, para Husserl, a fenomenologia não é uma psicologia descritiva, uma descrição do modo de operar da consciência, voltando-se sobretudo para a análise das essências, entendidas como unidades ideais de significação, elementos constitutivos do sentido de nossa experiência. É dessa forma que Husserl considera que o método fenomenológico rompe com a atitude natural ou espontânea em que constituem nossas crenças habituais, em que apreendemos fatos, passando pela suspensão em que abandonamos essa atitude ao exame do modo de constituição desta experiência. Logo, a suspensão coloca assim, em suas palavras, o mundo “entre parênteses”.

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