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segunda-feira, 19 de setembro de 2011

FILOSOFIA DO CONHECIMENTO

1. Níveis do conhecimento
a) Conhecimento ordinário
b) Conhecimento mítico
c) Conhecimento científico
d) Conhecimento filosófico
e) Conhecimento da fé.

“Todos os homens tendem por natureza ao saber”, escreve Aristóteles no começo de sua Metafísica. O desejo de saber, de extrair do real a claridade de sua verdade, é o fato mais universal, isto é, mais abrangente comum a todos, da história humana. Por exemplo; a criança, ao despertar da razão, fala questionando, indagando, buscando conhecer.

A característica fundamental do saber humano é sua universalidade. O animal no instinto de sua espécie se limita a conhecer objetos determinados, aqueles que o ajudam a conservar e propagar a vida. O homem, embora concentre o desejo de saber sobre um determinado núcleo de interesses, seu apetite de conhecer é estruturalmente universal. Ele se abre a todas as coisas do mundo. Sente-se arrastado por todo ser. O ser para ele é sempre libidinoso, é qual ímã que atrai incansavelmente. Para melhor compreender o que estamos falando, com relação à filosofia do conhecimento, distinguimos em cinco os níveis do conhecimento: Conhecimento ordinário; Conhecimento mítico; Conhecimento científico; Conhecimento filosófico; Conhecimento da fé.

Conhecimento Ordinário

Há uma primeira definição que nos é dada sobre este nível de conhecimento, vejamos. A interpretação do mundo, que surge da necessidade de enfrentar circunstâncias imediatas, da necessidade de resolver problemas pressionados por interesses os mais diversos, quando feita sem qualquer prévia discussão, denominamos de conhecimento ordinário ou senso comum.

Quer dizer, o conhecimento ordinário é, pois uma interpretação da realidade construída de modo espontâneo, instintivo. E Senso comum é, pois um saber que institui modelos de uso e de organização das coisas e é um saber que evoca o sentido profundo da realidade.

Diferentemente dos animais o homem tem a capacidade de vê o espaço o tempo, sempre dentro de uma espécie de moldura, na qual, define e limita as coisas. Isso é o seu espaço. É dizer, surgi daí aquilo que chamamos de mundo, história, cultura e sociedade. Por fim, raramente o conhecimento ordinário se faz acompanhar de explanações que esclareçam por que os fatos são como se diz que são. Este conhecimento é uma figuração representativa da totalidade do real presente e ausente. A característica fundamental do conhecimento ordinário, por assim dizer, é mais inconsciente que consciente, é mais vivido do que conhecido. É tão colado à vida que é um viver sem conhecer.

Por exemplo; naturalmente, os índios que viviam aquela organização social, estudada por Lévi-Strauss, não tinham consciência do que viviam, “não sabiam”, por que assim viviam.

Conhecimento Mítico

“O mito não encontra, de maneira nenhuma, adequada objetivação no discurso” (Nietzsche, F., Origem da Tragédia, p. 128).

Quer dizer, mito é uma intuição compreensiva da realidade, vazada numa linguagem fantasiosa. Pela sua intuição e linguagem, o mito é algo de muito vivo, prenhe de significação existencial. Neles a sociedade consubstancia as respostas aos problemas fundamentais da vida.

A função social dos mitos foi amplamente estudada por Molinowski. O mito, segundo este autor, é uma interpretação que possibilita a sociedade viver os fatos numa unidade e coesão superior. O mito é assim a força que faz a história.

O melhor caminho para chegar à interpretação do mito não é o exame lógico de sua linguagem, mas a experiência em profundidade da existência. O mito é uma legenda, uma saga da história. Para interpretar esta legenda é preciso descer à dinâmica da história, vive-la, participar intensamente do destino humano.

Mito é a linguagem na qual o homem está em permanente dialogo com a realidade. O homem está sempre na linguagem da realidade, antes mesmo de instituir qualquer representação, qualquer expressão denotativa que traduza em palavras e conceitos esse seu modo de ser.

Por ex., a ciência é mito, a flor é mito, o homem é mito. Isto significa que o que está aí, a ciência, o homem, a flor, são percebidos como revelando e ocultando o que eles são. Em suma, o mito está, por isso, intimamente ligado ao mistério, pois, quando o homem percebe o mito de tudo quanto é, ele está na experiência do mistério. Mistério é a essência inominável que se apresenta no particular-ai- imediato.

Mito é a experiência que nos faz ver que tudo o-que-está-aí vive recolhido e preservado na cripta secreta do ser.

Conhecimento Científico

Quando um conhecimento torna científico ou se faz ciência? O conhecimento se constitui em ciência desde o momento em que possa indicar claramente seu objeto e em segundo lugar desde que possa falar claramente sobre ele.

Para compreender o que seja conhecimento científico é preciso aclarar o espaço onde ele se efetua. O objeto do conhecimento científico não é o ser, é a representação do ser. Sempre que o ser é objetivado, representado claramente, ele pode construir objeto de uma determinada ciência. Há tantas ciências quantos forem os objetos, isto é, quantas forem às representações possíveis.

Os objetos da ciência quais são? São os entes concretos, que estão aí, que se revelam ao homem. O homem pode descobri-los mediante a sensibilidade que nos dá os objetos da empiria, ou mediante a imaginação criadora que nos dá os objetos da matemática.

O conhecimento científico é o que é produzido pela investigação científica, através de seus métodos.

Surge não apenas da necessidade de encontrar soluções para problemas de ordem prática da vida diária, mas do desejo de fornecer explicações sistemáticas que possam ser testadas e criticadas através de provas empíricas.

Conhecimento Filosófico

“Conhecer é identificar, superar a alteridade enquanto tal” escreveu Gentile.

Para bem sugerir o que seja o conhecimento filosófico, vejamos a afirmação de Platão (Tim. 45 c, 9 c-d) conhecer significa tornar semelhante o pensamento ao passado. Numa linguagem diferente Santo Tomás dizia que o conhecimento se faz por união do pensar com o ser.

O conhecimento se efetua por um processo chamado de abstração: o pensamento no contato com as coisas, no esforço de vê-las tais quais são, abstrai (recolhe) as causas, as formas últimas que as constituem, que lhes dão consistência. A realidade que aí está, aparece no envio das causas, que Platão chamava de ideias, que são a força, a habilidade instauradora do real.

Abstração é o processo próprio da razão, que, percorrendo o que aparece, se dá conta que as diferenças estão como que recolhidas numa unidade superior (ideia ou conceito universal). A razão que assim discorre não se afasta do real, é solidaria da realidade. Daí dizer Hegel: “Tudo o que é racional é real e tudo o que é real é racional”.

O conhecimento filosófico, embora seja representação do real, é diferente do científico. Nas ciências a inteligência não se dirige imediatamente ao real. O real é então visto, apreendido, representado mediante o sistema. O real nos vem a-presentado e compreende-lo no sistema. Por ex., o químico que estuda a água tem diante de si a simples a-presentação objetiva de H²O. Sua inteligência manipula a água como uma entidade ideal, um objeto H²O.

O conhecer filosófico é um representar o ser em conceitos que permanecem tão solidários ao ser que ao proferi-los evocam, sugerem sua presença. Por isso a filosofia não é representação do ser, mas presentaçao, uma re-flexão do ser. O filósofo enquanto pensa se expõe ao ser. Quando estiver na total disponibilidade, o ser aparece (faz sua a-aparência) e o pensar o percebe, o contempla e o recolhe.

Conhecimento da Fé

Diz Pascal “A fé é dom”(Pensées, 279). A Fé é uma realidade para a qual o homem não pode ir por própria competência. A fé comemorada na Bíblia, nas cerimônias sacramentais ou nas festas litúrgicas não é separada da vida, pois nesta está à fé em toda sua plenitude. Tais ritos de comemoração são o processamento integrado e harmonioso do viver cotidiano disperso e distraído.

Para melhor desvelar a inteligibilidade da ação-de-fé, a teologia em geral recorre à Bíblia e ao que a Igreja disse e diz, porque na palavra bíblica e na Igreja o teólogo vê uma articulação exímia, testada pela história. A Bíblia e a Igreja são expressivos documentos de fé. São como que sinais onde se lê a fé. Mas a teologia em si mesma é também sinal da fé tanto quanto a Bíblia e a Igreja.

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