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terça-feira, 10 de maio de 2011

NEO - ESPIRITUALISMO E VITALISMO

Corrente filosófica com raízes no espiritualismo francês do século XIX, que surgiu para fazer frente ao positivismo e racionalismo, destacando a importância da vontade (filosofia da ação e filosofia da vida), numa época em que o avanço e o êxito das investigações científicas ditas positivas pareciam tornar obsoletas as indagações, e, sobretudo a forma de resposta filosófica, Bergson tentará, entre outros, exaltar e inovar a metafísica, e responderá com uma concepção espiritualista de evolução: a “evolução criadora” ao evolucionismo materialista, que vigorava desde a segunda metade do século XIX, de igual modo contrapõe-se às teses deterministas apoiadas no cientificismo reinante em seu tempo, Bergson apresenta-se como defensor e reformulador do livre – arbítrio humano, apontando o herói e o místico como modelos de abertura e de liberdade no campo da moral e da religião.

Henri-Louis Bergson nasceu em Paris, a 18 de outubro de 1859. Foi um ardoso estudante que recolheu todos os prêmios acenados pelo caminho. Prestou homenagens às tradições da ciência moderna especializando-se a princípio em matemáticas e física, mas sua faculdade de análise breve o pôs face a face do problema metafisico que se esconde atrás da ciência: e voltou-se espontaneamente para a filosofia.

Em1883 aceita o convite para lecionar filosofia no Liceu de Clermont – Ferrand onde permanece durante cinco anos.

Em 1900 obteve a cátedra de filosofia no Collège de France, onde suas aulas tiveram sucesso sem precedentes, de modo que entre 1900 a 1924 era tido como moda frequentar suas aulas, as quais eram muito concorridas. Em 1927 recebeu o prêmio Nobel de literatura. Em 1932 publicou sua última obra importante, As duas fontes da moral e da religião, na qual distingue entre moral conformista e moral integral e entre religião organizada e religião mística. Morreu aos 04 de janeiro de 1941.

Na época em que Bergson viveu não se concebia o tempo como duração: era considerado, de acordo com a concepção positivista e científica, de modo análogo ao espaço. Via-se nele realidade homogênea, divisível em partes, distintas entre si somente por ocuparem posição diferente: o passado era considerado diferente do presente e do futuro apenas por ser anterior a ambos. Bergson inicia sua crítica ao positivismo mostrando que esta concepção do tempo é insustentável. Para prova-lo recorre aos dados imediatos da consciência, os quais revelam que ela não é algo pontuado como a luz intermitente de semáforo, mas algo contínuo e extenso. Suas dimensões são o passado, o presente e o futuro. Em outras palavras, os dados imediatos da consciência constituem duração que é compenetração e heterogeneidade. O tempo é a sucessão dos estados de consciência, logo, essencialmente duração, não podendo, por isso, ser reduzido ao espaço. O passado está no presente e o presente está carregado de futuro.

Henri Bergson é considerado o maior representante da filosofia da vida (ser é impulso vital), que se opôs ao determinismo mecanicista.

Como escreveu no seu testemunho, datado de 08. 02. 1937: “As minhas reflexões levaram-me cada vez mais perto do catolicismo, onde o acabamento completo do judaísmo. Ter-me-ia convertido, se não tivesse visto preparar-se desde há anos (em grande parte, infelizmente, pela culpa de um certo número de judeus inteiramente desprovidos de senso moral) a formidável vaga de antissemitismo que vai desabar sobre o Mundo. Quis ficar entre os que serão amanhã perseguidos.

Suas principais obras são: L’ Évolution Créature “A Evolução Criadora” (1907) e Les Deux Sources de la Morale et de la religion “As Duas Fontes da Moral e da Religião” (1932), La Pensée et le Mouvant “O Pensamento e o Movente”.

A filosofia de Bergson, ao contrário da maioria dos sistemas passados, é dualista: o mundo, para ele, divide-se em duas partes desiguais; de um lado, a vida, de outro, a matéria. O objeto da filosofia, para Bergson, é o impulso vital, o qual se manifesta no devir contínuo dos seres, devir que não procede por saltos desconexos, mas que se caracteriza por desenvolvimento no qual o passado permanece no devir.

Deve-se a Bergson a volta ao espiritualismo, contra o materialismo, o positivismo e o agnosticismo metafísico em geral. A sua influência foi muito grande. Bergson foi um dos mestres de Marx Scheller. William James foi um dos seus primeiros discípulos.

Bergson, como figura de maior destaque da reação contra o positivismo, parte de um exame crítico da verdade cientifica. Essa verdade surgiu de algumas limitações evidentes: a de nossos hábitos de percepção e a do senso comum que capta acima de tudo o caráter utilitário das coisas. Assim, o que os positivistas consideram indiscutivelmente objetivo, isto é, os fatos, vêm a ser apenas uma adaptação do real aos interesses da prática, às exigências utilitárias da vida social. A ciência, portanto, é segundo Bergson, conhecimento útil, vinculado mais ao trabalho do que o pensar, mais ao falar e manejar do que ao ver. Para ver o que é dado tal como é, para captar com o pensamento a autentica individualidade das coisas e dos seres, é preciso uma mudança de direção que altere nossos hábitos mentais, nossas percepções fundadas na utilidade. Bergson defende então uma reforma geral do espírito, que tenha como objetivo inicialmente uma reflexão sobres os próprios começos do pensamento. A filosofia é o objeto dessa reforma. Trata-se, porém, de uma filosofia nova, que não deve ser obra de um só pensador nem de um único programa e que, antes, terá de se constituir pelo esforço coletivo e progressivo de muitos pensadores, e também de muitos observadores, completando-se, corrigindo-se uns aos outros.

O objeto da filosofia é, pois, o impulso vital, o qual tem como sua característica a duração. A filosofia, diz Bergson, “procura, além do tempo especializado”, (...) “a duração concreta na qual se realiza incessantemente reelaboração radical de tudo”. “A filosofia é o estudo aprofundado do devir em geral, do verdadeiro evolucionismo”. O devir é a categoria suprema das coisas, o próprio ser da realidade; não aspecto transitório das coisas, mas sua própria natureza. Além do devir não existe nenhuma outra realidade, nenhum ser, nenhuma substância. “É necessário convencer-se uma vez por todas de que a realidade é devir, de que o devir é indivisível e de que num devir indivisível o passado coalesce com o presente”.

A este devir, do qual se originam todas as coisas, Bergson dá a designação de Evolução Criadora.

É da filosofia que Bergson reclama o segredo de uma conversa espiritual que inicie os homens em uma nova arte de viver: sobre a condição, porém, de que a própria filosofia se haja transmutado. Trata-se de por fim à tradição histórica da filosofia e de imaginar um novo filosofar. Esse “novo filosofar e/ou nova filosofia” provocou um efeito de fascinação que tomou forma de “conversões” de todas as espécies: J. Maritain, Péguy, K.Barth etc., ilustram essas “reviravoltas” que foram da teologia à política do socialismo. Com isto, Bergson quer deslocar a filosofia do domínio especulativo para o terreno da experiência espiritual, pois diz ele: “Essa filosofia nos dá também mais força para agir e viver. Pois, com ela, não nos sentimos mais isolados na humanidade, a humanidade não nos parece tampouco isolada na natureza que ela domina”.

Bergson tentou desenvolver um evolucionismo não materialista, mas por rejeitar a idéia de finalismo, sustenta a existência de um devir contínuo (“A substância das coisas é a mudança”), pendendo para um idealismo calcado em Heráclito e Hegel.

Bergson sonha com um filosofar ingénuo “que não passe pelos sistemas”.

O filosofar novo exige, pois, uma vigilância sem cessar desperta contra as proliferações conceituais que o entendimento humano suscita: donde essa crítica obstinada do conceito. Essa crítica do conceito conjuga-se com uma espécie de conversão espiritual, a saber, a descoberta da intuição filosófica através da experiência espiritual da duração psicológica.

A função da filosofia é, para Bergson, a volta do espírito a si mesmo, na coincidência da consciência humana com o princípio donde emana, um contato com o esforço criador. O espírito é, pois, por essência, intuição, na filosofia de Bergson. Filosofar consiste em inverter a direção habitual do trabalho do pensamento.

Á medida que Bergson se aproxima de sua visão filosófica, crítica do conceito e intuição da duração mistura-se uma com a outra como dois temas solidários: pois a crítica do conceito lança mão dos danos imediatos da consciência, mas, inversamente, a intuição da duração exige o recurso a um comentário antiespeculativo. Por isso, Bergson não consegue convencer seu leitor de que tenha, de fato, escapado aos preconceitos e aos labirintos da metafísica clássica.

Em suma, esse novo filosofar poderia pôr fim à era das controvérsias dogmáticas. Á multiplicidade dos sistemas que lutam entre si, armados de conceitos diferentes, sucederia a unidade de uma doutrina capaz de reconciliar todos os pensadores numa mesma percepção. As contradições entre os sistemas revelam a arbitrariedade pela qual o filosofo escolhe privilegiar tal ou qual aspecto da percepção, adotando tal ou qual conceito.

Para Bergson a reflexão filosófica deve-se instalar no centro intuitivo de uma consciência que coincida com a duração: em consequência, ela está condenada a interpretar a realidade através de uma espécie de leitura semiológica que opera inversamente à ciência.

A intuição é para Bergson o contato imediato com a realidade em nós. É, em primeiro lugar, o conhecimento do espírito pelo espírito, mas é também o conhecimento da matéria e da vida, por também sermos vida e matéria. A metafísica é esse contato interior imediato com a realidade.

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